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Uma verdade inconveniente

Foto 1 - Distrito de Morungava, Gravataí-RS. Desestabilização de talude florestado mesmo em ambiente natural devido à excessiva chuva ocorrida em 2024.

Foto 1 - Distrito de Morungava, Gravataí-RS. Desestabilização de talude florestado mesmo em ambiente natural devido à excessiva chuva ocorrida em 2024.

Fonte: do autor

Celso Copstein Waldemar

Celso Copstein Waldemar
Engenheiro Agrônomo e Botânico aposentado da prefeitura de Porto Alegre. Vice-presidente da Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan), gestão 2009-2011 -Conselheiro e associado da Astec.

Estamos no meio de uma grande tragédia social provocada pelas maiores inundações da história do estado e vivenciando um novo normal climático, agora em tempo real. As mudanças foram muito mais rápidas do que se imaginava. Estivemos, em 2023, no ano mais quente desde 125 mil anos atrás, ou seja, antes da migração dos humanos atuais da África! Cada um dos últimos oito anos foi mais quente do que todos os registros conhecidos até agora! E não está acontecendo apenas no Rio Grande do Sul. Só em 2024, cheias catastróficas também aconteceram em outros onze países: Alemanha, Inglaterra, Rússia, China, Cazaquistão, Afeganistão, Emirados Árabes Unidos, Quênia, Tanzânia, Estados Unidos e Austrália. Vamos ser bem claros sobre isso: vai ficar pior, pois o planeta está ficando mais quente.


Pela primeira vez, o aumento da temperatura global ultrapassou 1,5°C ao longo de um ano inteiro. Devemos reduzir em todos os países, a emissão de gases de efeito estufa pela metade, até 2030, segundo o acordo de Paris, na COP 21*, e zerá-la até 2050. Poderemos enfrentar situações irreversíveis e o colapso parcial das nossas sociedades se continuarmos a médio prazo acima dos 1,5 ºC, patamar seguro apontado pela ciência por milhares de cientistas no The Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC) - Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU. Pode parecer pouco, mas lembre-se, que cada metro quadrado da superfície do planeta, em média, subiu a este valor. A mesma situação acontece com o ser humano: de sua temperatura média de 36,5 ºC uma subida de 1,5ºC irá caracterizar um estado febril de 38ºC. A continuar assim, nesse desatino, estaremos no caminho certo para passar de 2,0 ºC ou até 2,5 ºC em questão de algumas décadas.

Foto 2 - Avenida Ceará – bairro São João, Porto Alegre – RS. Fica no portão e na parede manchada o registro do nível da enchente de maio de 2022 (cerca de 1,8m).

Foto 2 - Avenida Ceará – bairro São João, Porto Alegre – RS. Fica no portão e na parede manchada o registro do nível da enchente de maio de 2022 (cerca de 1,8m).

Fonte: do autor

O que precisamos é mudar a matriz energética e o manejo da natureza: reduzir substancialmente a queima dos combustíveis fósseis. Os transportes terrestres, marítimos e aéreos devem se abastecer de energia elétrica, álcool e demais biocombustíveis. Devemos aumentar ainda mais rapidamente o uso da energia, solar, dos ventos e das usinas hidroelétricas. E reduzir drasticamente o desmatamento de florestas e campos nativos em todos os biomas, pois eles sequestram porções significativas do CO2 do ar e apostar numa agricultura regenerativa. Temos pouco tempo para virar o jogo e para evitar danos maiores. Vamos pisar no freio! E agir, indivíduos, sociedade civil e principalmente os governos.


A atual e as futuras gerações herdarão este legado perigoso, estamos agora num momento único na história do nosso planeta, onde todos devemos compartilhar responsabilidades, tanto para o nosso bem-estar atual como para o futuro da vida na Terra.

* 21ª Conferência das Partes (COP21), da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC)

 


REFERÊNCIAS

MAES, Jessica. Como cientistas sabem que 2023 é o mais quente em 125 mil anos. Folha de São Paulo: São Paulo (SP), 29 dez. 2023. Caderno Ambiente: Planeta em Transe. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2023/12/como-cientistas-sabem-que-2023-e-o-mais-quente-em-125-mil%20anos.shtml#:~:text=2023%20foi%20marcado%20por%20eventos%20de%20calor%20extremo&text=A%20an%C3%A1lise%20aponta%20que%2C%20sem,de%20calor%20extremo%20no%20pa%C3%ADs. Acesso em: 15 jul.2024.


ONU diz que os últimos 8 anos foram os mais quentes em mais de um século e meio. Jornal Nacional: G1, [s.l.] 21 abr. 2023. Disponível em: https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2023/04/21/onu-diz-que-os-ultimos-8-anos-foram-os-mais-quentes-em-mais-de-um-seculo-e-meio.ghtml. Acesso em: 12 jul.2024.


PAGE, Eric S. More than 1,200 San Diegans still homeless after the Great Flood of 2024. Sandiego (USA): 8 feb. 2024. Disponível em: https://www.nbcsandiego.com/news/local/more-than-1200-plus-san-diegans-still-homeless-after-the-great-flood-of-2024/3429816/. Acesso em: 12 jul.2024.


POYNTING, Mark. Pela 1ª vez, aquecimento anual bate marca dos 1,5°C, e o que isso significa. Folha de São Paulo: São Paulo (SP), 10 fev. 2024. Caderno Ambiente: Planeta em Transe. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2024/02/pela-1a-vez-aquecimento-anual-bate-marca-dos-150c-e-o-que-isso-significa.shtml. Acesso em: 15 jul.2024.


WHAT'S Causing Russia's Record Floods? The Moscow Times: Moscow (Rus), April 18, 2024. Disponível em: https://www.themoscowtimes.com/2024/04/18/whats-causing-russias-record-floods-a84893. Acesso em: 12 jul.2024.

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Artigos | Revista da Astec, v. 24, n. 52, agosto 2024.

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