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LER/DORT: da notificação à prevenção e modificação dos processos de trabalho

LER/DORT

Fonte: Canva

Diego da Silva Goularte

Diego da Silva Goularte
Técnico em Enfermagem, Especialista em Gestão Pública, Coordenador do Centro de Referência em Saúde do Trabalhador de Porto Alegre (Cerest/POA) - Autor convidado.

Priscila Mallmann Bordignon

Priscila Mallmann Bordignon
Terapeuta Ocupacional do Cerest/POA, Mestre em Educação Unilasalle/RS Autora convidada.

Camila Galvão dos Santos

Camila Galvão dos Santos
Bióloga, Residente do Programa de Vigilância em Saúde pela ESP/RS - Autora convidada.

Tainá Suppi Pinto

Tainá Suppi Pinto
Sanitarista, Mestre Sanitarista (UFRGS), residente em Vigilância em Saúde no Cerest/POA - Autora convidada.

Solange Therezinha Pereira Lopes

Solange Therezinha Pereira Lopes
Mestre em Enfermeira no Cerest/POA - Autora convidada.

O processo de saúde e doença dos trabalhadores está intrinsecamente ligado às condições em que vivem e às experiências que enfrentam durante a vida, sobretudo em seus ambientes de trabalho. Esses aspectos não podem ser simplificados de modo unidimensional entre uma doença e um único agente causador, nem em uma visão multicausal que considere apenas fatores de risco físicos, químicos, biológicos ou mecânicos presentes no local de trabalho. É fundamental compreender que o processo saúde-doença dos trabalhadores está diretamente relacionado às condições de segurança e de qualidade conduzidas ou não pelas empresas, a fim de produzir cuidados diante das mais distintas atividades laborais. A extensa jornada de trabalho, característica comum entre os brasileiros, tem levado os sujeitos cada vez mais à exaustão, produzindo uma série de adoecimentos, como estresse, cansaço, depressão, lesões por esforços repetitivos/doenças osteomusculares relacionadas ao trabalho (LER/DORT), dermatoses ocupacionais etc. (Duarte e Lima, 2020).

As LER/DORT são síndromes clínicas estabelecidas pelo Guia de Vigilância em Saúde que afetam o sistema musculoesquelético e nervoso dos trabalhadores. Elas são causadas, mantidas ou agravadas pelo trabalho e podem atingir diversas categorias profissionais. Essas condições são geralmente caracterizadas pela ocorrência de vários sintomas inespecíficos, surgindo gradualmente ao longo do tempo. Entre os sintomas mais comuns estão a dor aguda ou crônica, parestesia (sensações de formigamento ou dormência) e fadiga muscular, manifestando-se principalmente no pescoço, na coluna vertebral, na cintura escapular e nos membros superiores e/ou inferiores.


A pressão do trabalho e o estímulo à competitividade no trabalho, muitas vezes levam os indivíduos a ignorarem os seus sintomas e persistirem na rotina profissional exaustiva, mesmo em meio ao processo de adoecimento. As queixas mais comuns entre os trabalhadores com LER/DORT são a dor localizada, irradiada ou generalizada, desconforto, fadiga e sensação de peso. Muitos relatam formigamento, dormência, sensação de diminuição de força, edema e enrijecimento muscular, choque, falta de firmeza nas mãos. Gradualmente, esses sintomas passam a se manifestar com mais frequência durante o expediente, estendendo-se até as horas noturnas e horas de repouso. Nessa fase, uma parcela considerável de pessoas busca ajuda de profissionais da saúde, por já estarem sem condições de atender às demandas de trabalho.


É importante ressaltar que o Ministério da Previdência Social destaca as LER/DORT como as doenças ocupacionais mais comuns entre os trabalhadores no Brasil (Medina e Maia, 2016). No entanto, a subnotificação dessas condições representa um desafio significativo, impedindo o registro adequado dos dados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) (Zavarizzi, 2018).


Apesar da subnotificação, alguns dados são possíveis de serem analisados. De acordo com as notificações realizadas no software Sentinela, desenvolvido em Porto Alegre para as notificações de acidentes de trabalho, no período de 2021 a 2023 foram notificadas 142 LER/DORT. Ao todo, desde o início da implementação do software até o início do mês de junho de 2024, são 180 notificações, evidenciando o grau de subnotificação desse problema de saúde enquanto problema de saúde do trabalhador, indicando ações de educação continuada que precisam ser desenvolvidas junto aos serviços que são portas de entrada para essa população (urgência e emergência/Unidades de Saúde) (Procempa, 2024).


Das profissões notificadas as mais atingidas são as de carteiro, operador de triagem e transbordo, agente comercial e faxineiro. A faixa etária dos trabalhadores mais acometidos pelas lesões notificadas nesses anos foram os com idade entre 50 a 59 anos, com 52 notificações. Já aqueles com idade entre 70-79 anos foram os menos notificados durante este período, com somente uma notificação registrada no Sentinela (Procempa, 2024).


Geralmente, alguns fatores propiciam o aparecimento das lesões, como movimentos repetitivos, sem pausas para recuperação, exposição a vibrações, posturas estáticas ou inadequadas, mobiliários não ergonômicos, temperaturas extremas, ruídos elevados, carga e ritmo de trabalho acelerado, entre outros. Apesar das lesões terem tratamento, o mais importante é a prevenção do seu surgimento. Para isso, é necessário criar um ambiente de trabalho mais saudável e ergonômico, evitando seus fatores de risco e promovendo a saúde. Além disso, é fundamental proporcionar um ambiente de trabalho que valorize o trabalhador, oferecendo segurança e satisfação pessoal e profissional.

 


Atuação do Cerest


Diante dessa realidade, o Centro de Referência em Saúde do Trabalhador (Cerest) desempenha um papel crucial ao oferecer atendimento a todos os trabalhadores de Porto Alegre que apresentem doenças com nexo causal laboral, independentemente do tipo de vínculo empregatício ou da forma de inserção no mercado de trabalho. O Cerest, que é parte da Diretoria de Vigilância em Saúde (DVS), oferece suporte e assistência necessária para lidar com questões de saúde ocupacional. Os encaminhamentos para avaliação e acompanhamento são realizados pela Atenção Primária em Saúde (postos) para a especialidade Doenças do Trabalho em Geral. No Ambulatório do Cerest, os trabalhadores são avaliados e elabora-se um plano terapêutico de acordo com as necessidades de cada um. Assim, reconhecendo a complexidade dos fatores que influenciam a saúde dos trabalhadores, é imperativo adotar uma abordagem abrangente e integrada, que considere não apenas os aspectos físicos, mas também os aspectos psicossociais e ambientais relacionados ao trabalho. Somente através desse entendimento integral, poderemos promover ambientes de trabalho mais seguros e saudáveis para os nossos trabalhadores.


Contato do Cerest: (51) 3289-5231 (Whatsapp) - Centro de Saúde Santa Marta- Rua Capitão Montanha, 27- 4º andar
 


REFERÊNCIAS

 

DUARTE e LIMA. Aplicação da Ginástica Laboral na Prevenção de LER/DORT no setor Administrativo da Prefeitura Municipal de Paracatu- MG. Link: https://revistas.icesp.br/index.php/FINOM_Humanidade_Tecnologia/article/view/1189, acesso em junho de 2024.

MEDINA, F. S.; MAIA, M. Z. B. A subnotificação de LER/DORT sob a ótica de profissionais de saúde de Palmas, Tocantins. Rev. Bras. Saúde Ocup.: São Paulo, v. 41, 2016. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbso/a/P3q5br7CmsSVP9Vc5WWbmkD/abstract/?lang=pt. Acesso em: 5 maio 2024.


PROCEMPA. Dashboard - Notificações relacionadas ao trabalho. Sentinela, 2024. Link: https://app.powerbi.com/view?r=eyJrIjoiNmQzMzJlYjQtMGQ3YS00N2Q3LWJmNzgtMzY3ZmJkMmI5MDQ5IiwidCI6IjA0NmFkMWJjLWE5NTYtNDA0OC05ODAzLTc4MTIyN2FhMDAzOSIsImMiOjh9. Disponível em: Acesso em: 07 jun.

ZAVARIZZI, Camila de Paula et al. Notificações de LER/DORT em um Serviço Especializado em Saúde do Trabalhador da Baixada Santista. Revista Interdisciplinar de Estudos em Saúde: [S.l.]  v. 11, n. 1, 2022.  Disponível em: https://doi.org/10.33362/ries.v11i1.1645. Acesso em: 5 maio 2024.

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Artigos | Revista da Astec, v. 24, n. 52, agosto 2024.

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