As cores dos animais possuem muitas funções. Destas, destacamos três funções adaptativas mais importantes da pelagem como a ocultação (camuflagem), comunicação (na qual os padrões de cores devem ser o mais notáveis possível) e regulação dos processos fisiológicos como troca de temperatura (CARO, 2005).
Soraya Ribeiro
Bióloga. CRBio nº 17.508-03
Jamila Carvalho Pereira / Médica Veterinária
Geane Peres de Azambuja / Acadêmica de Biologia Unisinos
Camila Galvão / Acadêmica de Biologia UFRGS
Gleide Marsicano / Médica Veterinária
Caio Hannecker / Acadêmico de Veterinária UFRGS
Figura 1 – Sabiá laranjeira, Turdus rufiventris
Fonte: as autoras
Figura 2 – Gambá, Didelphis albiventris, filhote
recém-resgatado / Fonte: as autoras
Figura 3 – Outro gambá, Didelphis albiventris,
20 dias após o resgate / Fonte: as autoras
Cores anômalas aos padrões naturais ou selvagens podem ocorrer quando há quantidades excessivas de pigmento (hiperpigmentação) ocorre o melanismo, bastante documentado para os felinos (ROBINSON, 1970); (EIZIRIK et al., 2003); (SILVA et al., 2016).
As deficiências de pigmentação levam à formação de manchas brancas no corpo, conhecida como piebaldismo, como o leucismo, quando o animal apresenta pelagem branca, mas a coloração dos olhos normais (LUCATI E LÓPEZ -BAUCELLS, 2016).
Além disso, há o albinismo verdadeiro (hipopigmentação), originado pela total ausência dos pigmentos de melanina (ANCIOLOTTO E MORI, 2016). Essa característica ocorre quando não há deposição de melanina nas células da pele ou folículos pilosos, causada por uma herança hereditária recessiva durante o processo de transferência de pigmento (OLIVEIRA; VARJÃO; PEREIRA, L.; PEREIRA, P., 2019).
A ocorrência de coloração anômala (albinismo, leucísmo e melanismo) em mamíferos é um fenômeno raro na natureza, mas ela tem sido relatada para diversas espécies (LUCATI E LÓPEZ -BAUCELLS, 2016). A melanina é um tipo de proteína produzido nos melanócitos, a partir de um aminoácido essencial chamado tirosina. É essa proteína a principal responsável por colorir a pele e pelos dos seres humanos, além de proteger o DNA das células contra a radiação ultravioleta emitida pelo sol. Existem dois tipos principais de melanina: a eumelanina e feomelanina. A primeira apresenta uma coloração que varia do negro ao marrom, além de possuir um alto peso molecular e capacidade de dispersar a luz ultravioleta. Já a feomelanina apresenta coloração que varia do vermelho ao amarelo, o animal apresenta coloração amarelada geralmente nos membros e algumas partes do corpo (Gálvan et al, 2018). Existem situações em que alterações bioquímicas fazem com que ao invés de produzir melanina é produzida a feomelanina, deixando partes do animal com coloração amarelada.
O gambá Didelhys albiventris ocorre do nordeste ao sul do Brasil, habita área de florestas, formações arbustivas, campestres, zona rural e zona urbana. São animais muito adaptados às formações urbanas podem utilizar os forros das residências como tocas. A coloração no dorso é grisalha possui pelos negros misturados aos brancos. Alimenta-se de invertebrados, pequenos vertebrados e frutas. Ao alimentar-se de frutas contribui para regeneração das florestas por meio da dispersão de sementes. Possui cauda longa e preênsil, o que permite que o animal transite por árvores. Prole fica no marsúpio até quatro meses. Após esse período, os filhotes se agarram ao dorso da mãe até ficarem independentes. Pesam de 500 g à 2,8 kg. Reproduzem-se com mais intensidade nos períodos quentes, chegando a ter três ninhadas por estação (WEBER, ROMAM, CÁCERES, 2013).
No município de Porto Alegre ele pode ocorrer em toda a cidade, zona urbanizada e zona rural. Muitas pessoas ainda se surpreendem ao encontrar este animal em sua residência.
O sabiá Laranjeira Turdus rufiventris, é uma ave abundante da cidade de Porto Alegre, mede 20-25 cm de comprimento, pesando em média de 68-80 g. Tem plumagem parda, com exceção da região do ventre, destacada pela cor vermelho-ferrugem, levemente alaranjada, e bico amarelo-escuro. Canta principalmente ao alvorecer e à tarde. O canto serve para demarcar território e, no caso dos machos, para atrair a fêmea. A fêmea também canta, mas numa frequência bem menor que o macho. Sua nutrição se compõe basicamente de insetos, larvas, minhocas e frutas maduras, incluindo frutas cultivadas como o mamão, a laranja e o abacate. Ração de cachorro também atrai esta espécie, podendo servir de alimento em cidades grandes com menor disponibilidade de alimentos naturais.
O ninho é feito entre setembro e janeiro, geralmente em arbustos, árvores de folhagem densa ou bananeiras, empregando fibras e gravetos ligados por um pouco de lama, num formato de tigela funda. A fêmea choca até três vezes por ano, e em cada postura coloca de três a quatro ovos, de coloração verde-azulada com pintas (ou manchas) cor de ferrugem (sépia). O período de incubação dura em torno de 13 dias. Macho e fêmea se revezam na construção do ninho e na alimentação dos filhotes (WIKIAVES, 2020).
No decorrer do trabalho do Setor de Fauna da SMAMS em pareceria com a clínica Toca dos Bichos foi possível observar dois casos interessantes envolvendo coloração anômala. Um exemplar filhote de gambá que apresentava coloração amarelada nas patas, face, cauda e posterior do dorso. Como o padrão era amarelo, o animal foi caracterizado como um indivíduo com coloração anômala produzida pela feomelanina, pigmento que substitui a melanina em algumas partes do corpo promovendo esta coloração. Em estudos realizados na Costa Rica, este padrão foi encontrado em primatas da espécie Aloutata paliata. Os pesquisadores estudam uma possível relação da anomalia à presença de agroquímicos usados nas lavouras da região (GÁLVAN; JORGE; MURILLO; ESPELETA, 2018).
No ano de 2010 a equipe de fauna da SMAMS encontrou um exemplar da espécie Turdus rufiventris no Parque Moinhos de Vento, o animal apresentava manchas brancas pelo corpo. Este tipo de coloração e padrão de distribuição pode ser caracterizado como Leucismo, este é uma particularidade genética devida a um gene recessivo, que confere a cor branca a animais geralmente escuros.
As colorações anômalas nos animais é uma característica que deixa os mesmos em desvantagem, pois os animais possuem sua coloração adaptada ao ambiente em que vivem e com objetivo de mantê-los protegidos de predadores sendo importante no processo reprodutivo. A coloração anômala faz com que esses animais fiquem mais suscetíveis à predação, defesa contra raios UVA e UVB e possam ter mais dificuldade na hora do acasalamento.
REFERÊNCIAS
ANCILLOTTO, L.; MORI, E. Adaptive significance of coat colouration and patterns of animais apresentam coloração mais escura nas florestas úmidas dos trópicos (GLOGER, 1933), 2016.
CARO, T., The adaptive significance of coloration in mammals. Bioscience, v. 55, n. 2,. p. 125-136, 205. Disponível em: http://dx.doi. org/10.1641/0006-3568(2005)055[0125:TASOCI]2.0.CO;2 . Acesso em: 30 jul. 2020.
CARO, T. Contrasting coloration in terrestrial mammals. Philosophical Transactions of the Royal Society of London. Series B, Biological Sciences, v. 364, n. 1516, p. 537-548, 2009. Disponível em: http:// dx.doi.org/10.1098/rstb.2008.0221 . PMid:18990666. Acesso em: 30 jul. 2020.
CARO, T., The adaptive significance of coloration in mammals. Bioscience, v. 55, n. 2, p. 125-136., 2005. Disponível em: http://dx.doi. org/10.1641/0006-3568(2005)055[0125:TASOCI]2.0.CO;2 . Acesso em: 30 jul. 2020.
EIZIRIK, E. et al.; Molecular genetics and evolution of melanism in the cat family. Current Biology, London, v. 13, n. 5, p. 448-453, 2003.
GÁLVAN, I.; JORGE, A., MURILLO, F. S.; ESPELETA, G. G. A recente shift in pigmentation phenotype of a wild Neotropical primate. Mammalian Biology, 2018.
LUCATI, F.; LÓPEZ-BAUCELLS, A. Chromatic disorders in bats: a review of pigmentation anomalies and the misuse of terms to describe them. Mammal Review, Oxford, v. 47, n. 2, p. 112-123, 2016.
OLIVEIRA, Leando da Silva, VARJÃO, Iardley Cícero Gomes, PEREIRA, Luiz Cezar Machado, PEREIRA, Patrícia Avello Nicola. Primeiro registro de leucismo no cachorro-do-mato, Cerdocyon thous (Linnaeus, 1766) (Carnivora: canidae) no Brasil. Biotemas, Florianópolis, mar. de 2019. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/biotemas/article/view/2175-7925.2019v32n1p93 . Acesso em: 30 jul. 2020.
ROBINSON, R. Inhetitance of the black form of the leopard Panthera pardus. Genetica: Dordrecht, v. 41, p. 190-197, 1970.
SILVA, L. G. et al. Biogeography of polymorphic phenotypes: Mapping and ecological modelling of coat colour variants in an elusive Neotropical cat, the jaguarundi (Puma yagouaroundi). Journal of Zoology, London, v. 299, n. 4, p. 295-303, 2016.
TALAMONI, S., VIANA, P. I. M., COSTA, C. G., PALÚ, L., OLIVEIRA, R. B., PESSÔA, L. M. Occurrence of leucism in Eira barbara (Carnivora, Mustelidae) in Brazil. Biota Neotropica, v. 17, n. 3, 2017. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/1676-0611-BN-2017-0328 . Acesso em: 30 jul. 2020.
WEBER, M. M.; ROMAM, C.; CÁCERES, N. C. Mamíferos do Rio Grande do Sul. Santa Maria: Ed. UFSM. Santa Maria, 2013. 552p.
SABIÁ-LARANJEIRA. In: WIKIAVES. [S.l.], 2020. Disponível em: https://www.wikiaves.com.br/wiki/sabia-laranjeira . Acesso em: 30 jul. 2020.
Comments